sexta-feira, setembro 22, 2006

SESSÃO DE DIA 20/09/2006:



Realizou-se no dia 20 de Setembro a 40ª sessão dos Meninos da Avó. Numa noite dedicada ao Atlântico, a música interpretada por dois açorianos foi o momento mais marcante.
Numa linguagem simbiótica entre duas guitarras Pedro Hilário e o músico convidado (a “surpresa” do anúncio) Victor Castro, brindaram-nos com uma performance musical única evocando o espírito da mítica Atlântida. Uma sensação de insularidade dominou o espírito de uma sessão marcante que vai perdurar na nossa memória!



De seguida ficam alguns poemas de autores açorianos lidos na sessão:

DEZEMBRO DE SETENTA E UM,
CINCO ANOS DEPOIS


No dia em que Pompidou, Nixon e Marcelo
estiveram na Terceira, nós estávamos em casa e fazíamos
[amor.
E da janela do quintal chegámos a avistar os carros
[presidenciais
e parte da multidão que fazia o seu papel de multidão.
No dia seguinte, os jornais muitos dias depois lidos,
falavam da cimeira exaustivamente.
Fotografias da santíssima trindade e dos sítios onde
se hospedaram: o Marcelo no palácio dos capitães, o
[Pompidou
na estalagem da Serreta e o Nixon na sua base das Lajes.
O Dias Júnior ofereceu quadros trabalhados por ele em
[cedro

aos presidentes
Também vimos reportagens em grandes revistas
[internacionais.

Tudo isto não teria a mínima importância se,
por esses dias não estivéssemos em casa, violando
as regras do jogo que mandam o cidadão açoriano ser
hospitaleiro, agitar bandeirinhas patriotas e bater palmas
ante altíssimas cimeiras como aquelas.
Que estariam fazendo os poetas americanos e franceses
naquele dia? Estariam como nós a Ocidente, desfazendo
impérios, inventando a arte de dominar o corpo? Nós,
tínhamos a esperança que sim. Mas o Vietnam continuava,
Angola, Guiné-Bissau e Moçambique também. A nação
[árabe
bramia o petróleo contra Israel e por tabela contra
os presidentes de sorriso roubados ao sol de dezembro
[da nossa ilha
mas armados até aos dentes; e contra a gente
também. Mas nós vínhamo-nos no auge da crise:
assim é que estava bem! Cincos anos depois é justo
não esquecer que estávamos em casa e fazíamos amor
bem perto dos abutres e do seu repasto.

J. H. Santos Barros, “Os Alicates do Tempo”; edições Afrontamento 1979.


SONHO ORIENTAL

Sonho-me às vezes rei, nalguma ilha,
Muito longe, nos mares do Oriente,
Onde a noite é balsâmica e fulgente
E a lua cheia sobre as águas brilha…

O aroma da magnólia e da baunilha
Paira no ar diáfano e dormente…
Lambe a orla dos bosques vagamente,
O mar com finas ondas de escumilha…

E enquanto eu na varanda de marfim
Me encosto, absorto num cismar sem fim,
Tu, meu amor, divagas ao luar,

Do profundo jardim pelas clareiras,
Ou descansas debaixo das palmeiras,
Tendo aos pés um leão familiar.

Antero de Quental, “Sonetos”

Uma nota final para agradecer esta foto tirada pelo Gonçalo Morais e aconselhar uma visita ao seu blog: http://gnupost.com/blog

1 comentário:

Anónimo disse...

Não sei se isto se pode ou deve dizer mas foi, sem dúvida, uma das sessões que eu mais gostei.
Voltem sempre. eu quero mais. S.