quinta-feira, dezembro 08, 2005

SESSÃO DO DIA 7/12/05

Francisco Palma-Dias e Jorge Telles de Menezes em destaque



Realizou-se no dia 7 de Dezembro a 22ª sessão dos Meninos d´Avó. Esta sessão ficou marcada por duas visitas, o poeta F.M. Palma-Dias que veio falar-nos da sua obra poética e da presença de três elementos pertencentes à Orquestra de Palavras, um grupo de leitura e escrita criativa da Ericeira. De realçar ainda a adesão ao cantinho do tricot que passou a ser uma imagem de marca das nossas sessões. De seguida reproduzem-se os poemas lidos/representados pelos elementos da Orquestra de Palavras:
Os Anos Felizes

eu tlim ciências
tu tlim matemáticas
ele tlim trabalhos manuais
nós tlim recreio
vós tlim senhora
eles tlim castigo

Mário Cesariny (com António Domingues)



Um Velho no Restelo

Irado, e meio de recusa, olha as gaivotas.

É o Homem do leme?
Não o creio.

Dá tudo por tabaco. Um cigarrinho
Apazigua o velho. A sua queixa
(histórica?) é, afinal, conforme.

Vem para terra o velho. Perde uma alpergata
e apostrofa o mar que não tem culpa
do alcatrão fervente.

O velho morde um pão
E deixa nele o dente.

O velho bebe um copo
Não deixa nele a sede.

O mar é ladrão.
De pais a filhos o mar é o ladrão.

O sal das sobrancelhas alveja em seu olhar.
Está por tudo o velho, menos pelo mar.

Alexandre O´Neill



Inscrição

Quando eu morrer voltarei para buscar
os instantes que não vivi junto do mar.

Sophia de Mello Breyner Andersen


Esquecido no Outono

Eram sete e meia
do Outono
e eu esperava
não ineteressa quem.
O tempo
cansado de estar ali comigo
a pouco e pouco desandou
e deixou-me sozinho.
Fiquei então com a areia
do dia, com a água,
sedimentos
duma semana triste, assassinada.

- Que foi? – perguntaram-me
as folhas de Paris. – quem é que
esperas?

E assim fui várias vezes humilhado
primeiro pela luz que se apagava,
depois por cães, por gatos e gendarmes.

Fiquei só
como um cavalo só
quando no pasto não há noite nem dia,
apenas sal de Inverno.
Fiquei
tão sem ninguém, tão vazio
que choravam as folhas,
as últimas, e depois
caíam como lágrimas.

Nunca antes
nem depois
fiquei tão de repente só.
E foi à espera de quem,
não me recordo,
foi tolamente,
passageiramente,
mas aquilo foi
a instantânea solidão,
a mesma
que se tinha perdido no caminho
e num instante como a própria sombra
desenrolou o seu infinito estandarte.

Então saí daquela
esquina louca com os passos mais rápidos que tive,
foi como se fugisse
da noite
ou da pedra escura e roladora.
Não é isto que eu conto
mas passou-se quando eu estava a espera
de não sei quem um dia.

Pablo Neruda

1 comentário:

Anónimo disse...

Quando saí daí nesse dia pensei nas estranhas propriedades que poderão vir a ter os cachecóis e camisolas saídos do cantinho do tricot pois não apenas fios de lã estão a ser aí entrelaçados.
Paula