quarta-feira, novembro 29, 2006

SESSÃO DE DIA 24/11/2006:

O autor Diogo Carvalho



Realizou-se no dia 24 de Novembro a 44ª sessão dos Meninos da Avó.
Como anunciado a sessão contou com a presença do autor Diogo Carvalho que apresentou o seu livro “Nunca Só”.
O lançamento do livro ocorreu no restaurante Regalo da Gula, onde se encontraram alguns amigos e colegas do autor, o que contribuiu para um ambiente tertuliante algo íntimo mas muito interessante.
De seguida fez-se a sessão dos Meninos da Avó no café/bar 2 ao quadrado, na sessão leram-se poemas e textos do livro, sendo de referir uma performance feita por uma amiga do autor com uma forte componente cénica e emotiva!
Debateram-se alguns dos poemas do autor assim como a inspiração por detrás de alguns deles.
Para finalizar evocaram-se os 100 anos do nascimento de Rómulo de Carvalho/António Gedeão.

Lágrima de preta

Encontrei uma preta
que estava a chorar,
pedi-lhe uma lágrima
para a analisar.

Recolhi a lágrima
com todo o cuidado
num tubo de ensaio
bem esterilizado.

Olhei-a de um lado,
do outro e de frente:
tinha um ar de gota
muito transparente.

Mandei vir os ácidos,
as bases e os sais,
as drogas usadas
em casos que tais.
Ensaiei a frio,
experimentei ao lume,
de todas as vezes
deu-me o que é costume:

nem sinais de negro,
nem vestígios de ódio.
Água (quase tudo)
e cloreto de sódio.

António Gedeão


Máscaras

São pequenas as coisas que fazem muito sentido
Sofrer por aqui não estares, sem nunca te ter tido
Conhecer a história de um romance, sem nunca o ter lido
Sentar-me no trono do herói, sem nunca o ter sido.

É um baile de máscaras onde cada um pode ser o que quiser
Ser Rei, animal, criança ou mesmo mulher.
Pode-se fantasiar até onde se entender
Nada do que se dá é verdade, nada há a perder.

Nascemos neste baile que é já tão antigo
Usamos uma máscara para cada ocasião, nenhuma é de amigo
Se do coração falo, ninguém ouve o que digo
E se alguém notasse, qual seria o castigo?

É uma realidade triste e torta
Largo máscaras e saio pela porta
Sinto na cara um frio que corta
Mas até o frio aconchega mais que essa gente morta.

Larguei as máscaras e afinal
Dei por mim nas ruas da capital
A assistir aos bailes pelo beiral
De uma janela com um belo vitral.

Mais uma máscara para ver outro exterior
Para colorir o cinzento, dar um pouco mais de cor
Olhar para fora não provoca assim a dor
Mas estar lá dentro não significa conhecer o amor.

No baile não há confiança
Aquela peruca apenas parece uma bela trança
Aquilo que cá fora mais me cansa
É haver tão pouca gente nesta dança.

Máscaras que nos dão, outras que pomos
Ninguém quer saber como realmente somos.

Diogo Carvalho, in “Nunca Só”

1 comentário:

Anónimo disse...

Obrigado tu por no poema dançares esta dança...
Procuro que as minhas máscaras sejam de borracha leve... não é o ideal... mas sempre são melhores que as pré-formatadas de plástico duro que espremem os teus contornos para o encaixe...