quinta-feira, dezembro 15, 2005

FERNANDO GRADE

Fernando Grade numa sessão dos Meninos d´Avó

Na próxima sessão (dia 21) voltaremos a ter o poeta Fernando Grade connosco! Desta vez a sua participação irá incidir na apresentação do livro "Poemas de Natal", voltamos a destacar a sua obra, desta vez com um maior enfâse bíográfico:

Fernando Grade nasceu no Estoril (1943, sob o signo do Carneiro). Empenhado na agitação e dinamização de ideias, antes e depois do «25 de Abril», Grade organizou recitais, disse poemas dos outros e seus, dirigiu colóquios sobre poesia moderna, mormente do Orpheu ao Desintegracionismo, fez conferências acerca de artes plásticas, realizou teatro de acção e sessões-a-poesia-está-na-rua, em sociedades de cultura popular, bibliotecas, unidades fabris, clubes desportivos, escolas técnicas, liceus, sessões de esclarecimento e comícios políticos, museus, na via pública, em suma, em muitos e contrastados sítios, nomeadamente Leiria, Lisboa, Amoreira, Carcavelos, Luanda, Cabinda, Barreiro, Paris, Caparide, Benguela, Cambambe, Almada, Parede, Torres Vedras, Caldas da Rainha, Londres, Cascais, Murtal, Sevilha, Caxias. Alcabideche, Montijo, Abóboda, Guimarães, Oeiras, castelo Branco, Estoris, Madorna, Alvide, Peniche, Fundão, Idanha-a-Nova, Póvoa de Penafirme, Vale do Jamor.
Como artista plástico, é o criador da Teoria das Multidões e das Colagens Perversas. Expôs, individualmente, em Lisboa (por três vezes), Benguela, Luanda, Parede, Angra do Heroísmo, Horta, Cascais e Castelo Branco. Está representado com a sua Teoria das Multidões no Museu Nacional de Arte Contemporânea, no Museu de Angola, no Museu de Castelo Branco e nas colecções da Galeria Nacional de Arte Moderna e do Museu da Cidade de Luanda, bem como em diversas colecções particulares nacionais e estrangeiras.
Crítico de arte, tem trabalhos, dispersos especialmente pelo «Jornal de Letras e Artes», «O Século», «Século Ilustrado» (nesta publicação manteve uma secção semanal durante 3 anos) e «Diário de Notícias» (de Maio a Novembro de 1975).

Foi crítico literário do «ABC – Diário de Angola» e do «Podium». Crítico de televisão e espectáculos da «Vida Mundial». Cronista literário de «A Capital», «O Século», «Jornal de Viana e «A Bola». Foi director e chefe de Redacção da revista «Costa do Sol».
Pertenceu à Sociedade Portuguesa de Escritores, destruída pela PIDE e extinta. Foi director técnico da Associação Portuguesa de Escritores e da Associação Portuguesa de Críticos.
Faz parte do MIC (movimento de Intervenção Cultural).
Foi vereador, pela FEPU, da Câmara Municipal de Cascais.


NATAL

Hoje nasceu um poeta
no escuro da minha rua
Cresceu fez-se homem
apagou o sol
e bateu na lua

Amanhã será tão nutrido
que tremem as balanças de esquina
sentido o ranger de sapatos
os seus passos não beatos
Amanhã será tão angélico
que os anjos ruins ou não
sentem a inveja nascer
sob a membrana da fala

vendo voar rente aos astros
esse poeta maldito
sem carne nem abraços
abaixo os sexos e a lua
hoje nascido aqui
do ventre mais volumoso
da virgem da minha rua

Fernando Grade, in "Sangria" (1962), Edições Mic



OS LOUCOS E AS FACAS

Sim os loucos adoram as facas
mas detestam as espingardas carregadas
de sal
Eles matam todos os bicharocos
menos os pobres
Adoram as facas de lâmina prateada
as vermelhas de cortar melancia
as azuis
e cospem nos verdes revólveres
armas luzidias
O manual artístico dos canhotos
é da autoria de um louco

Os loucos são belos divertidos são castanhos
e todos me parecem mestres famoso
O meu primo pintor abstracto
já constrói muito melhor as coisas de dentro
desde que recebe lições de um louco
Dantes era uma nulidade cinzenta
agora só vira a cabeça na rua
quando o tratam por génio

Vou a Hyde Park defender a causa dos loucos
Pois claro hão-de fazer exame de Latim

Como a História é um rebuçado multicor
os loucos sairão distintos em megalomania

Fernando Grade, in “Um Arbusto Entre os Calhaus” (1965), Edições Mic



Anti-Necrológica

para o Urbano Tavares Rodrigues

Os que choram o morto,
o seu antigo rosto trigueiro,
não choram a razão do morto.

Só a lógica na relva
Nos dá a raiva e a semente.

(Quem chora o morto,
chora-o apenas
parvamente).

Não choro os mortos-com-razão:
as suas veias verticais
são riscos onde
os dedos ganham a forma do sal
e dos pardais.

Fernando Grade, in “A + 2 = Raiva” (1970), Edições Mic

23 comentários:

Anónimo disse...

O primeiro aniversário de "Os Meninos da Avó" ocorre dia 21.Há que salientar o espirito de tertúlia e de amor pela palavra dita/escrita que move esse conjunto de resistentes irresistíveis nas noites longas da Casa da Avó,espaço assombrado pelos fantasmas do betão e onde os duendes da magia do poetar plantam suas flores silvestres nessas noites de Klingsor.
A invasão da palavra é boa para os peitos cheios de ar(te) dos analfabetos da Alma,neste spleen de emoção e partilha.Continuem pois e tragam os bisnetos e muitos mais.
Nós,alagamarenses iniciáticos também somos netos dessa Avó que em poemas se desdobra e no antever das almas alimenta sonhos e noites e dramas e estados de alma de muitos nós.Saravá pois para vós-que também são Nós-Meninos da Avó

Anónimo disse...

Esquecer uma mulher inteligente custa um número incalculável de mulheres estúpidas.

(António Lobo Antunes)

Anónimo disse...

Viva Fernando Grade!

samari disse...

Desejo a todos @s menin@s d'Avó um feliz natal e um ano novo cheio de poesia.

POEMA DE NATAL
Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados,
Para chorar e fazer chorar,
Para enterrar os nossos mortos
- Por isso temos braços longos para os adeuses,
Mãos para colher o que foi dado,
Dedos para cavar a terra.
Assim será a nossa vida;
Uma tarde sempre a esquecer,
Uma estrêla a se apagar na treva,
Um caminho entre dois túmulos -
Por isso precisamos velar,
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito que dizer:
Uma canção sôbre um berço,
Um verso, talvez, de amor,
Uma prece por quem se vai
-Mas que essa hora não esqueça
E que por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre,
Para a participação da poesia,
Para ver a face da morte
- De repente, nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem;
da morte apenas
Nascemos, imensamente.
Vinicius de Moraes

Anónimo disse...

Amigos, netinhos, avó querida!!

Já lá vai um ano em que bastou um momento e a ideia virou verso com o nascimento dos Meninos d`Avó!!
Parabéns a todos por esta inicitiva que nos uniu, acimentou conhecimentos e nos deixou crescer e aprender juntos a luta por um mundo melhor!!!

A todos um grande bem haja.

Da netinha
Suzy
P.S.É sempre um prazer reencontrar o fabuloso Fernando Grade...

Anónimo disse...

um homem inteligente nunca se esquece

Anónimo disse...

Fernando Grade é um grande poeta e os seus sonetos são a arte magistral das palavras.Um grande senhor da literatura portuguesa.Um abraço de uma dilecta leitora.
Luisa Filipa

Anónimo disse...

os meus sonhos são as tuas palavras
e eles escondem mil mistérios.
um abraço para o poeta Fernando Grade
Marga

Anónimo disse...

Preciso de contactar o Fernando Grade, pelo que agradeço que para o meu mail, gigi_arte@hotmail.com me possa ser enviado o seu contacto, o que desde já muito agradeço.
Preciso de lhe pedir autorização para utilizar um poema seu, numa publicação a que vou proceder.
Obrigada

Iryna Feshchenko disse...

Sou uma escritora, poeta russa. Estou a traduzir o poema do Fernando Grade "O vinho dos mortos". Adoro-o. Preciso a autorizaçao dele para publicar este poema numa revista russa. Queria falar consigo, se faça favor, pode ser, que por mail. O meu mail: irenerussian@gmail.com
Com os melhores cumprimentos, Iryna.

Anónimo disse...

As palavras saindo de um vulcão de lava tornam-se cinzas de mãos atadas.

Anónimo disse...

Quando fores velha (tradução)W.Yeats
Quando fores velha,grisalha,vencida pelo sono,
Dormitando junto à lareira,toma este livro,
Lê-o devagar,e sonha com o doce olhar
Que outrora tiveram teus olhos, e com as suas sombras profundas.

Muitos amaram os momentos de teu alegre encanto,
Muitos amaram essa beleza com falso ou sincero amor,
Mas apenas um homem amou tua alma peregrina,
E amou as mágoas do teu rosto que mudava;

Inclinada sobre o ferro incandescente,
Murmura, com alguma tristeza, como o Amor te abandonou,
E em largos passos galgou as montanhas
Escondendo o rosto numa imensidão de estrelas.

Anónimo disse...

A provar o improvãvel. Ser simples não é nada simples.Não sei onde estou, unicamente deambulo sem objectivo. Deambulação intencional.Mas disse-me algo sobre...sobre o ter estado em Firenze...o que lhe queria relembrar.
Pare de me arreliar.Não ligue ao que eu disse. É noite a lua está imensa e o elevador da Glória está tão só como eu. A solidão tem ruído.

Anónimo disse...

Um jardim desfolhado
quem ousa dizer
que não é belo

Anónimo disse...


Lutemos por um mundo melhor onde a saúde a educação e a cultura estejam de mãos dadas.Que nas palavras dos políticos não haja cinismo e não sejam bons rapazes

Anónimo disse...

Vou para o Norte para me suicidar e já entreguei o quadro cujas mensagens provocatórias fazes questão de mencionar.

Anónimo disse...

Entreguei o quadro ao universo que tenho nas minhas mãos e há-de viajar sempre comigo quiçá ao sabor das ondas desse mar que me atiça a mergulhá-lo.

Anónimo disse...

Para Maquiavel

Todo o poder está na razão de um povo, só é preciso saber executá-lo.

Obs.: para o poeta ler

Nada

Cara Menyembuhkan DBD disse...


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