quinta-feira, setembro 07, 2006

SESSÃO DE DIA 06/09/2006:




Poeta Duarte Braga


No dia 6 de Setembro decorreu a 39ª sessão dos Meninos da Avó. Como foi referido contámos com a presença do poeta Duarte Braga.
Este poeta estudioso das letras trouxe-nos a sua poesia sacro-mística (da sua colectânea ainda inédita A madrugada dos cegos ou Terra vertical), assim como algumas das 72 Teses sobre a Graça e a Matéria e uma conversa sobre os dois contos que os inspiraram: Santa Eponina de Raul Brandão e o menino da avó esmagado nas rochas do Conto de Natal de Fialho de Almeida.
Fica a promessa de serem publicados no blog, num futuro próximo, alguns textos referentes à participação do poeta Duarte Braga.
A sessão decorreu na encantadora esplanada situada na fonte das Quimeras onde contámos com uma noite muito amena e um abençoada lua cheia, também com intervenções livres do público das quais publicamos duas em seguida.
Uma última referência à presença de muitos meninos novos que marcaram presença pela primeira vez e esperamos que as suas visitas se tornem frequentes!

Imagem do Sol

O Sol está mergulhado na atmosfera
como nas penas o bico
da ave aquática que dorme

Sobre a cordilheira chuva
louro-claro espessa como crinas de cavalo

E então ergue-se o indómito
animal encharcado na luz
transbordante como se o ar florisse

(Aflorar, Stuttgart, DVA, 1998), Christoph Willhelm Aigner


içar loucos lumes com amigos contentes
de facto fim enquanto entendem enclavinhar
homens à intransmissão do lugar povoado
que enche quatriliões de plexiformes sóis
porque aqui éons possivelmente vegetei
em choro legítimo mel de escarpas
ao colidir com a esfera dum pleno desvanecer
naturismo alar de verter cálidas interrogações
voltem de máximas procuras de mínimos voltem
motivos que transbordam vorazes ilíquidos
de supressões radicais acudindo-nos
por implantar torrentes sentimentais
compelindo inestéticos peões à foz arborescente
consoante a medida do tomador vermelho

Filipe de Fiuza


Duarte Braga

72 Teses Sobre a Graça e a Matéria

« La Grâce, c’est la loi du mouvement descendent» (S. Weil).

I

A Graça é uma lei da descida, da descida aos infernos.

Cristo desceu ao limbo para libertar os profetas antigos: o movimento do novo que
liberta o antigo e sua lei de conservação.

A Graça é o mais novo, o caule que mais hesita.

A graça é a absoluta novidade, o absolutamente novo.

O coleccionador é aquele que mais peca contra o espírito.

A Graça é o novo. Deus como a grande catedral de Rilke, construída por mãos trémulas,
a abóbada.

As capelas imperfeitas do mosteiro da Batalha mostram-na em acção e suspensão.

O movimento de adentramento na matéria, em Raul Brandão e Fialho, é o movimento
de assumpção da matéria e do seu resgate, mas um resgate feito pelo amor dela, pelo
beijo ao leproso.

O esvaziamento da matéria é a experiência do seu peso.

O esvaziamento da matéria é a experiência do seu amor.

Restantes aforismos no link: www.pauloborges.net na secção de autores convidados

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