Poeta que será alvo da nossa atenção na próxima sessão dos Meninos d´Avó, fica uma amostra (pequena) da sua obra e o convite a descobrirem mais deste autor:
SOBRE PORTUGAL
Nestes Tempos do Fim onde merecemos viver,
pois que neles nascemos – e onde, portanto, temos
de viver assumindo, cada um de nós, o nosso
destino como parte, também, das egrégoras (das
pessoas colectivas) às quais estamos ligados -,
a Poesia deveria ser particularmente iluminadora.
Mais do que em qualquer outro sítio, ela o tem
Sido, de facto, em Portugal. Bastará que lembremos
essa vanguarda da época das vanguardas,
objecto recente das atenções duma crítica (o tex
tualismo acudindo ao historicismo) que ameaça
sacrificar o que elas dizem, em benefício da época
em que o diziam e da maneira como o diziam.
No conjunto das vanguardas europeias, a vanguarda
Portuguesa é aquela que mais depressa
Assumiu, sem equívoco ainda que numa ordem
Dispersa, aquilo a que chamo a fatalidade da
modernidade: simultaneamente ao que ninguém, no
nosso tempo, pode escapar, e aquilo que, longe
de libertar o homem, como lhe repetem há dois
séculos, o degrada cada dia que passa.
A vanguarda portuguesa foi a única, de todas
as vanguardas europeias, que ulteriormente reencontrou
a tradição, no sentido ultra-religioso do
termo.
André Coyné
I
Gema, modo de usar e de fazer, trama
1
Donde vai parindo esta história vera
descobre-se e faz-se
refaz-se
esta passagem da ilha dos amores
à do único fervor
a dos ardentes
2
este canto aqui deitado
a ninguém pode servir
mas pode ser levantado
por quem o deixar subir
pelo corpo e que dum trago
cantar então a luzir.
Um dia ou outro se olha
porque então do que canto ousamos
chegar ao quinto que é cante
se olhas de caras e dorso
a inesfacelada
face
e é
o nosso rosto
e todas as máscaras que aqui estão
3
artefacção
e arte fátua
ofício
e artificio
trazer as estrelas aos cabelos alargados à dansa
[que é voar silente
e no corpo frígido o grito desunhado em gritaria
com as cores sintéticas no ácido na boca (silenciar
que mesmo se de branco na face do nada
é sangue espavorido que nela seca ou secará
mais tarde
estampilhado
ou num estoiro de esmagar os dentes)
é arte egónica
convulsa ou embalando o ricto na noite onde ago-
[niza e se resolve
o ego (se o fortalece é a morrinha pêca)
canónica renasce estoutra
duma tradição que se descobre
Tradição é
a que tece as madeixas e os eixos a que se desdobra
o soçobro do mosto (e o vinho faz-se
e desce pelo corpo do artesão
que desaparece).
Duma e doutra
bate meu coração aqui escrevendo (e que ele me leve
à perdição de tudo o que sonhei
que se extinga o nome e que
nomei
4
repousas sobre a terra
poisada dentro de ti mesma e despertas
desfraldando meu corpo que murmuras
(sopro a sopro te descubro) e proferes
todos os sabores que prefiro
(amargosos, sem açúcar)
de ti a mim
amar reúne e nutre
de mim a ti
o mar desata um nó amarrotado.
Assim nos funda
estamos e somos
esta travessia que em nós pulsa
5
nas frases outonais deste inferno
soletro letras ilustrando a bruma
d´aquém e d´além estar, ou seja, a espuma
que brame em continente submerso.
Ao veio donde fomos rastejando
volveste velida alma minha erguida
louçana e pura entrançado o sirgo
que cose a ligadura a lume brando.
É fogo luso para a quinta essência
Atalantando. E nesta lonjura
a soidade pena em mim pulsando
o futuro presente agora e quando
o ferro fundente descobre a armadura
que veste o fiel de luz, perdidamente
Francisco Palma Dias, in “cante quinto”, Guimarães editores, 1981.
10 comentários:
Don't you know there ain't no Devil, there's just God when He's drunk. (T. Waits)
Amigos:
Fico contente com a manutenção permanente deste blog e a continuidade dos Meninos da Avó. Bacana! Não esqueço de vocês. Grande abraço,
Antonio Naud Júnior
- Estou com um novo blog, falando das coisas da Bahia: www.tresvezesbahia.blogspot.com
Nenhum outro ser humano, nenhuma mulher, nenhum poema ou música, livro ou pintura podem substituir o alcóol no seu poder em oferecer a ilusão da verdadeira criação.
(Marguerite Duras)
O inferno são as outras.
(J.P. Sartre)
A temática de alguns dos comentários, dá-me vontade de ler o "díario" do Luis Pacheco (antes de dormir).
Paulo Paixão
fabuloso!!!!!!!!!!!!
(vim da Isabel Victor)
ainda maravilhada.
________________parabéns.
A poesia e TUDO, palavra, verbo que aqui encontrei é sublime
gostei muito muito
isabel victor
Também eu ando deslumbrado com Palma Dias. Curiosa coincidência.
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