Prestamos a nossa homenagem à poetisa esteva de alba que já esteve presente em sessões dos Meninos d´Avó.
Imagine-se uma sala desenhada a céu
aberto um espaço esférico assente em
raízes de carvalho antigo e adornado
pelos limites de um céu a invocar o
anoitecer
Imagine-se o bulício do ar tornado
partículas de luz insuflado pela
penumbra crescente
Imagine-se um profundo silêncio
convocando uma assembleia de astros
peregrinos
Imagine-se o silêncio valsando com a
solidão ao som de uma dança antiga
para celebrar um itinerário sem memória
Imagine-se um conjunto de cadeiras
solidárias dispostas em círculo a observar
o movimento
atentas ao equilíbrio das órbitas
Imagine-se então sob o signo da luz a
fala de cada cadeira e só essa
iluminada de som
EU
Eu de mim
Trazida
na voz que espalha o vento
enfrento-me
Do desfiladeiro do Tempo
arca sagrada das ânsias perdidas
recolho na palma da mão
retenho na raiz do momento
a anunciada memória
de uma virtuosa miragem
Vapores de mim
suspensos na viagem
errante do pensamento
revelam-se imagens
de entes do antes
que não conheço
TU
E tu - quem és
que só existes
nos fios suspensos de mim?
Contornos dúbios
de uma outra forma de ser
pressinto que estejas aí
a ocupar outra cadeira
da minha vida
ELE
No embalo das noites
claras já tão distantes da vigília escura
crescem os dias serenos
ampliando horizontes
e acolhendo novas companhias
na varanda do ser
Porquê um outro?
Ele nada é!
Não o deixemos quebrar
nosso cúmplice aprumo
a exigir outro arrumo
segredamos
NÓS
Nós
das mil formas
Nós
de todas as cordas
Quimeras de vitórias
fomos povo fomos gente
urro brado
grito inconsciente
Nuvens de pós
lançados ao acaso ou
fruto d´uma promessa urgente?
VÓS
Vós
voz frígida da autoridade
no comando e no confronto
entre irmãos desleais
ELES
Deles
eu sei
dos outros
Todos os outros
desalinhos do igual
enredos da não pertença
Eles
o restolho da diferença
para as sobras do nós
VOZES
TODAS
Tempo
dardo lançado
abrindo a direcção
dos possíveis
no itinerário dos deuses
e no coração dos homens
Divididos e multiplicados
por um todos fomos
sendo em todos
nenhum
revelou-me o espelho
O foco de luz apagara-se
As cadeiras vazias descansam
da enorme pressão do som e da luz
Atentas escutam a espiral do silêncio
que recolhe vagarosa os vestígios
da virgem memória
Arrumadas em outra arquitectura de
sentires estão agora mais próximas
quase unidas de braços para acolher
novo fio de luz herança do primeiro
já recolhido
E se a umas quantas cadeiras é
imperceptível o prenúncio desta nova
luz – por excesso de polimento ou de
rugosidades no verniz – outras
cansadas de estar sentadas
abandonam-se às mãos
guiantes e fraternas ávidas por receber
o pólen de ouro que as conduzirá
por entre as esquinas das
sombras
Assim que se retirarem da sala.
esteva de alba, in “Eu de mim e outras vozes”, Pé de Página Editores, Junho de 2003.
3 comentários:
Inclusão neste espaço bem merecida, pelo poema e pela pessoa que é. Este «Eu de mim e outras vozes« é bem da...Esteva, capaz de ver em qualquer pessoa o seu ser especial. Reflexão sobre os desdobramentos do Eu, o enfrentamento de si e dos outros, o crescimento interior num movimento de marés, ora voltado para si, ora voltado para o outro. O outro que é - também - o eu, o eu que é - também - o outro. O poema original, bem mais longo do que o que aqui está, foi encenado de forma muito bela por um grupo de teatro de Coimbra. Quem sabe, um dia poderá ser visto em Sintra.
Paula
O poema é realmente muito bonito e é com pena que só pusemos uma parte (penso que significativa) dele mas temos que encontrar um equilíbrio para não tornar o blog muito sobrecarregado! Em relação à dramatização do poema podemos tentar divulga-la e traze-la até Sintra ou tentar que seja feita de novo por dos grupos de teatro de Sintra. Fica a sugestão...
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