sexta-feira, outubro 14, 2005

HOMENAGEM A ANTONIO JUNIOR

Antonio Junior


Hoje regressou ao Brasil (de onde é natural) Antonio Naud Júnior, poeta, escritor e Menino d´Avó desde os primeiros tempos. A sua presença foi marcante, a sua ausência será muito sentida. Como um dos principais impulsionadores deste blog deixamos a justa, merecida e sentida homenagem a alguns dos seus textos poéticos. Mesmo com um oceano de distância sabemos que continuará presente em espírito e esperamos em texto!

Um Abraço e um até breve (é assim que nos despedimos daqueles que não esquecemos)



PARA CADA UM A SUA VERDADE


acendem-se falésias
sob o mundo de inês
(sim inês de castro a concubina untada de mel!)
no quebra-vento
na água salgada
no caminho de mágoas
que leva a lugar nenhum
e a luz? a luz a luz
onde a sophia luz?
onde os sóis as estrelas as luas
dentro de mim e de ti?
as rochas calam-se calam sempre
calam todos os demais
num silêncio esmagador
de medo renovado
sem rosto nem perguntas
como ontem como hoje como amanhã
antigas almas na escuridão
antigos olhos saramago
em naus à caminho de noites de fado
rendição e solidão

acendem-se pássaros azuis
sob a imensidão de mar e céu
talvez uma última chance para compreender
talvez uma última chance para amar
cansado de sombras
cansado do viver por viver
digo calma calma é preciso calma
eu e todos os demais
outros e iguais e provincianos
estes murmúrios equívocos
silêncios de fantoches
ergue-se a esperança em gaivotas imóveis na areia!
na raiz-divina na sabina-das-praias no chorão!
no lagarto-sardão no rabirruivo-preto!
em todas as coisas helder da vida!
calma calma é preciso calma
de nada adianta esta ofendida angústia
a verdade é uma colméia de complexos
besuntada de variações obscenas
de nada adianta a florbela melancolia
tudo cai no esquecimento
poucas vozes são realmente importantes
e um e a um os sonhos cintilarão outra vez

arrancam-me o al berto coração
que não sabe saber fingir?
invento outro!
ainda tenho tempo para alvéolos sustos
garante-me pessoa
ainda tenho tempo para outros amores
calma calma muita calma ainda tenho tempo
para caminhar noite adentro
estremecendo como uma virgem
garante-me llansol
renovado coração quente
pés na estrada poética
galopando o cavalo eugénio dos sonhos


Antonio Júnior, Praia da Aguda, outubro de 2005.


Junho & Juny


Nits (*)


incêndio sem chamas.
abro os olhos e vejo o que está aqui.
durante minutos, o pensamento exato, na trajetória da
fumaça de um cigarro que se dissolve
no lamento de tristão.

pré-ocupação.

seu agudo
canto de sereia
faíscas febris de noites inúteis,
semidestruída
reputação (mas o que é a reputação?)

já não faz falta sentir
a língua fria
da melancolia.

recebido com ramos de lírios
por parábolas e ofensas,
neste instante,
o éden é a meta,

erguido aos céus de pelúcia
o pensamento oculto
bendito em noites
de bestas interesseiras
em noites de equilíbrio,
de nervos de aço,
de freqüência.


(*) Nits: Noites em catalão.


Outubro & Octubre

Dolor (*)



chegaram todos, não falta ninguém.
(estão presentes poetas nunca lidos e
suas intenções desleixadas).

veio também um anjo

com lágrimas do tamanho do lustre imperial,
penetrado de saudades, sensibilizado
pela falta de respostas.

não ditas por quem?

“já passou”, ele diz,
enxugando o rosto.
a dor talvez seja só um excesso
de uísque, lástimas e tristezas.

já passou.
“eu creio em algo que você não crê”, digo.

a dor declarada desfaz-se no seu sorriso
e suaviza a imagem encantadora.


(*) Dolor: Dor em catalão.

António Júnior, in “Calendário Azul”


montanhas são vozes, falam,
falam,
falam em silêncio

falam emoções, emoções esquecidas
falam através de curtas e definitivas frases:
o amor é uma águia que voa alto, muito alto
é uma delas.

Entre elas, numa clareira, irradia-se um carvalho
único e imortal
está assim, fincado na terra dura
cúmplice durante séculos do silêncio,
constante em sua verdade todas as nossas esperanças
vivem nele
as minhas, as suas
e as dos outros.
é um segredo da nobre arvore
que sabemos e não sabemos.

e vou, não nego: as montanhas
são um caminho interior.

António Júnior, in “Se um Viajante numa Espanha de Lorca”, Pé de Página Editores, Maio de 2005.

8 comentários:

Anónimo disse...

António, vou sentir muito e muito a tua falta. Nem sequer me despedi de ti (nunca me perdoarei por isso) e um post não suplanta aquele abraço forte que te queria dar. Um zilião de beijos e até breve.

Anónimo disse...

agora, além dos textos, conheço a pessoa... e já tenho saudades. volta depressa.

Anónimo disse...

Amigos, que comovente! Nem sei o que responder... Sao tantas boas recordaçoes, tanta gente que gosto tanto... Viva Sintra! Viva a Casa da Avó e os seus Meninos! Vocês estao no meu coraçao e volto, tenham a certeza que volto... OBRIGADO, MEUS BELOS! Beijao e muito Axé (já captei o espírito baiano),
Amtonio Naufd Júnior

Anónimo disse...

António, nem sabia que ias embora já em Outubro. Curioso que te telefonei no Sábado dia 15, mas fui "atendida" pelo voice mail da TMN...a essa hora já tu devias estar na Bahia. safadinho...levaste o meu livro daquele certo autor...ahahaha! (isto não se devia por num post!) Foste previdente, foste embora logo agora que começou o mau tempo...chove e faz frio. Muitos beijos e até ao teu regresso, só nos resta esperar por mais daqueles teus magníficos poemas.
Comy

Anónimo disse...

deixem cá ver: o blog é do antónio junior e quem faz a homenagem ao antonio junior é o próprio?
aaahhhh......
s.

MeninosdaAvo disse...

O Blog não é do António Júnior... é também do Antonio e como tal achamos que era justa e merecida esta homenagem!
Assim a que as pessoas que nos visitam lhe prestam!
Obrigado a todos de certeza que ele agradeçe igualmente!

Anónimo disse...

Como foi ontem, amigos? Contem-me tudo sobre a participação pra lá de especial de Miguel Real! Estive aí, perceberam? AXÉ!
Antonio Naud Júnior

Anónimo disse...

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