terça-feira, janeiro 24, 2006

POEMAS E PENSAMENTOS SOLTOS:

"Ou se tem chuva e não se tem sol
ou se tem sol e não se tem chuva!
Ou se calça a luva e não se põe o anel,
ou se põe o anel e não se calça a luva!
Quem sobe nos ares não fica no chão,
quem fica no chão não sobe nos ares.
É uma grande pena que não se possa
estar ao mesmo tempo em dois lugares!
Ou guardo o dinheiro e não compro o doce,
ou compro o doce e gasto o dinheiro.
Ou isto ou aquilo: ou isto ou aquilo . . .
e vivo escolhendo o dia inteiro!
Não sei se brinco, não sei se estudo,
se saio correndo ou fico tranquilo.
Mas não consegui entender ainda qual é melhor: se é isto ou aquilo."

Cecília Meireles


SORTILÉGIO

Se é verdade, quando a noite cai,
E em paz repousam os viventes
E dos céus escorre exangue o raio
Da lua nas lápides dormentes,
Oh, se é verdade que ficam já
Os túmulos vazios, queria
Chamar-te a sombra, esperar Leíla:
Vem, minha amiga, vem cá, vem cá!

Vem, ó sombra bem-amada, tal
Como estavas antes da partida,
Branca e fria como dia invernal
Na última aflição contorcida.
Vem, ó sombra amada, tanto dá
Que sejas um leve toque, um sopro,
Ou visão tétrica de assombro,
Seja qual flores: vem cá, vem cá!...

Não te chamo pra acusar, oh não,
Quem por mal me matou a amiga,
Matou amiga do coração,
Nem para à tumba roubar o enigma,
Ou porque a dúvida me doerá
Não… é por saudade que te chamo,
Pra contar-te como inda te amo
E te pertenço: vem cá, vem cá

Aleksandr Púchkin (1830)

POEMA DE NATAL
Para isso fomos feitos:
Para lembrar e ser lembrados,
Para chorar e fazer chorar,
Para enterrar os nossos mortos-
Por isso temos braços longos para os adeuses,
Mãos para colher o que foi dado,
Dedos para cavar a terra.
Assim será a nossa vida;
Uma tarde sempre a esquecer,
Uma estrêla a se apagar na treva,
Um caminho entre dois túmulos-
Por isso precisamos velar,
Falar baixo, pisar leve, ver
A noite dormir em silêncio.
Não há muito que dizer:
Uma canção sôbre um berço,
Um verso, talvez, de amor,
Uma prece por quem se vai-
Mas que essa hora não esqueça
E que por ela os nossos corações
Se deixem, graves e simples.
Pois para isso fomos feitos:
Para a esperança no milagre,
Para a participação da poesia,
Para ver a face da morte-
De repente, nunca mais esperaremos...
Hoje a noite é jovem; da morte apenas
Nascemos, imensamente.
Vinicius de Moraes
"Livros não mudam o mundo, quem muda o mundo são as pessoas os livros só mudam as pessoas."
Mário Quintana
Se eu tivesse as sedas bordadas do céu.
Com bainhas de luz de ouro e de prata.
As sedas azuis e sombrias e escuras.
Da noite e da luz e da meia-luz.
Deitava-as todas aos teus pés.
Mas eu sou pobre e só tenho os meus sonhos.
Deitei-os todos aos teus pés
Pisa com cuidado,
É nos meus sonhos que estás a pisar.
W. B. Yeats (tradução de Miguel Esteves Cardoso)
Da ilusão nasce a dor
Mãos que se estendem ao vazio
Em eternos instantes de solidão.
Dedos que não alcançam o destino,
Sons que não fazem uma canção.
Fugazes doces carícias,
Pequenos toques de simples ternura,
Momentos de sorrisos cúmplices,
Paixões que morrem em amargura.
Cerrado vai-se tornando o véu
Com o avanço da caminhada
Na inerente contradição.
Esbate-se o amor em tons de masoquismo,
Mas a dor nasce da ilusão.
Bruno Vitória
Nenhum outro ser humano, nenhuma mulher, nenhum poema ou música, livro ou pintura podem substituir o alcóol no seu poder em oferecer a ilusão da verdadeira criação.
Marguerite Duras
"Fora de um cão, o livro é o melhor amigo do homem. Dentro do cão, é escuro demais para ler."
"Em quem é que vais acreditar? Em mim ou nos teus olhos?"
"Um gato preto que se atravessa no teu caminho quer dizer que o gato vai a algum lado."
"Ou ele está morto ou o meu relógio parou."
"Nunca pertenceria a um grupo que me aceitasse como membro."
"Acho a televisão muito educativa. Assim que alguém a acende, eu vou para outro quarto ler."
"Lembro-me da primeira vez que tive sexo. Guardei o recibo."
"O casamento é uma instituição maravilhosa, mas quem é que quer viver numa instituição?"
"Se já ouviste esta história antes, não me interrompas porque eu quero ouvi-la outra vez."
"A próxima vez que nos virmos lembra-me para não falar contigo."
"A justiça militar é para a justiça o que a música militar é para a música."
"Um dia matei um elefante com o meu pijama, só gostava de saber como é que ele se meteu no meu pijama."
"Estes são os meus princípios, se não gostares deles...bem, eu tenho outros."
Groucho Marx
Burgueses somos nós todos ó literatos
Burgueses somos nós todos ratos e gatos
Mário Cesariny
«Mário nós não somos todos burgueses
os gatos e os ratos se quiseres,
os literatos esses são franceses
e todos soletramos malmequeres.
Da vida o verbo intransitivo não é burguês é ruim;
e eu que nas nuvens vivo nuvens!
O que direi de mim?
Burguês é esse menino extraordinário
que nasce todos os anos em Belém
e a poesia se não diz isto Mário
é burguesa também.
Burguês é o carro funerário.
Os mortos são naturalmente comunistas.
Nós não somos burgueses
Mário o que nós somos todos é sebastianistas.»
Natália Correia
Esquecer uma mulher inteligente custa um número incalculável de mulheres estúpidas.
António Lobo Antunes

3 comentários:

MeninosdaAvo disse...

sophia said...
quando beberem um café por aí e nele depositarem um pacote de açucar reparem no envólucro... esta primeira citação anda por aí a "dar frutos" enquanto bebemos um simples café!

Abraço a todos

12:59 PM


Anonymous said...
Eu sou um homem que pensa noutra coisa. (Victor Hugo)

12:43 PM


sophia said...
eu sou uma mulher que pensa em muita coisa...

1:12 PM


Anonymous said...
todos os livros juntos não valem uma noite de amor

1:23 PM


sophia said...
sim!... mais vale não pensar...

1:44 PM


Anonymous said...
Não é possível queimar uma única página da nossa vida, mas é possível atirar o livro todo ao lume

3:44 PM


sophia said...
nada na nossa vida é para sempre mas tudo na vida fica para sempre...

4:53 PM
11:02 PM
samari said...
Burgueses somos nós todos ó literatos
Burgueses somos nós todos ratos e gatos
Mário Cesariny

«Mário nós não somos todos burgueses
os gatos e os ratos se quiseres,
os literatos esses são franceses
e todos soletramos malmequeres.

Da vida o verbo intransitivo
não é burguês é ruim;
e eu que nas nuvens vivo
nuvens! O que direi de mim?

Burguês é esse menino extraordinário
que nasce todos os anos em Belém
e a poesia se não diz isto Mário
é burguesa também.

Burguês é o carro funerário.
Os mortos são naturalmente comunistas.
Nós não somos burgueses Mário
o que nós somos todos é sebastianistas.»
Natália Correia
3:24 PM
Anonymous said...
Li o livro de Job ontem à noite. Parece-me que Deus sai mal visto.

(Virginia Wolf)
12:46 PM
sophia said...
Visto por nós Deus sai sempre mal visto! (fica aquém de qualquer tipo de visão)
10:53 AM

1:05 PM


Anonymous said...
excelentes citações, sim senhor! só falta a de um grande poeta, infelizmente ignorado na nossa praça: ele é o António Carlos Cortez! Saudações!

Ass.: Joaquim Almeida

4:50 PM


MeninosdaAvo said...
Já temos um post só dedicado ao António Carlos Cortez! Esta no arquivo no mês de Outubro, para evitar repetições não voltamos a fazer referência a ele! Esperamos em breve voltar a falar dele e da sua poesia.

6:54 PM


sophia said...
Ele que apareça!!!

8:21 PM

Anónimo disse...

DEVERES PARA COM DEUS

Todas as noites, e antes de vos entregardes à masturbação, orai de joelhos.

Admirai a bondade de Deus, que deu a todas as meninas uma cona para nelas se enterrarem todas as pissas do mundo, e que,
para vossos prazeres variar,
vos permite substituir a pissa pela língua, a língua pelo dedo,
a cona pelo cu e o cu pela boca.

Agradecei-Lhe o ter Ele criado para as meninas as cenouras, para as raparigas as bananas, as beringelas para as jovens
mamãs, e as beterrabas para as senhoras maduras.

Dai graças a Deus por vos ter incutido o desejo de vos virdes,
e por ter criado meios mil para o fazerdes.

Quando rezais de joelhos, se alguém dessa posição se aproveitar para lograr enrabar-vos,
a tal inconveniência não deveis vós
prestar-vos.

Antes de irdes comungar,
se chupardes alguém,
não engulais o esperma,
pois assim deixaríeis de ficar em jejum.

Há raparigas que,
por demais serem vigiadas,
compram uma virgenzinha em marfim polido e dela se servem
como pissa postiça.
Trata-se, porém, de uma prática condenada pela Igreja.
Podeis, isso sim, servir-vos para tal fim de um círio,
com a condição de se não encontrar benzido.


Pierre Louÿs, Manual de Civilidade para Meninas, Lisboa, Fenda Edições, 1988 (tradução de Júlio Henriques)

Anónimo disse...

ELOGIO AO AMOR - Miguel Esteves Cardoso in Expresso

Quero fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona e verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão. Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado. Porque se
dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido. Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa dascuecas e das calças e das contas da lavandaria.

Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem. A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prá tica.
O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.

Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi
namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje.Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá tudo bem,
tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides,borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?

O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, apausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso
"dá lá um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não sevê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a
loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode.
Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto.

O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A "vidinha"é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida d e cada um como o clima. O amor não se percebe. Não dá para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha,
não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o
amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar,o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapadas mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama,não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem.

Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir.

A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a vida inteira, o amor não.Só um mundo de amor pode durar a vida inteira. E valê-la também