No dia 3 de Maio realizou-se a 32ª sessão dos Meninos da Avó, como foi anunciado contamos com a presença do autor Sérgio Luís de Carvalho, o ambiente ficou marcado pela nostalgia dos muitos antigos alunos presentes deste professor de História da Escola Secundária de Mem-Martins. Num ambiente tertuliante vivo o autor foi falando dos seus livros, da inspiração subjacente a cada um deles, do processo de escrita. Também em destaque esteve outra função que actualmente ocupa o autor: o cargo de director científico do Museu do Pão.
De seguida fica uma transcrição de um texto da autoria de Filomena Oliveira e de Luís Martins, que analisa alguns dos romances de Sérgio Luís de Carvalho.
Analisando os três romances de Sérgio L. Carvalho (“Anno Domini”; “As Horas de Monsaraz” e “El-Rei Pastor”) como um todo, não podemos deixar de evidenciar três vertentes ideológicas e duas invariantes estruturais que caracterizam e singularizam a obra deste autor no panorama geral da literatura portuguesa actual:
1- O novo romance histórico não é estruturado segundo teses ou mensagens a transmitir ao leitor como verdades. Não se trata de evidenciar ficcionalmente uma lei histórica, de anunciar uma verdade, de contradizer uma argumentação, como o romance histórico do Romantismo, o drama histórico do realismo e naturalismo ou o romance histórico nacionalista; trata-se, somente, de escrever um romance, ou seja, um livro de ficção que pela ficção se resta. Em “El-Rei Pastor”, conclui-se que todos os grupos, todos os indivíduos históricos têm alguma razão e ninguém tem a razão total, nem as instituições oficiais, mais defensoras dos privilégios da Igreja dos cónegos e da hierarquia do poder, nem a seita do “Pastor”, que nasce como uma reacção do desagrado contra aquela, nem o próprio “Historiador”, cuja verdade depende da consulta das fontes, as quais, por sua vez dependem do processo de exclusão de outras fontes, quando não depende do processo de legitimação das próprias fontes como se constata em "El-Rei Pastor”.
2- Outra das marcas singulares da obra de Sérgio Luís de Carvalho nos seus romances é a da total ausência de leis históricas absolutas. Diferentemente, constatamos a existência de leis contingentes que favorecem ou inclinam a acção individual e colectiva num ou noutro sentido (o “tempo dos mercadores” em “As Horas de Monsaraz” por exemplo), mas nunca a existência de um sistema de leis que determinasse de um modo total o sentido da História.
3- Finalmente, sem o conforto de uma explicação providencialista ou sistemática da História e sem o conforto mental de adopção de leis necessárias, o resultado ficcional só pode ser de cepticismo e de pessimismo.
Gostaríamos, igualmente de sublinhar, como invariantes da obra de Sérgio Luís de Carvalho, seja o seu gosto pelos ambientes e história centrados na Idade Média, mas sem a carga de nacionalismo romântico dos autores do século XIX, seja a sua capacidade de dramatização do conceito milenário de “fim dos tempos”, que surgiram no seu primeiro romance, que enforma as personagens e a acção de “As Horas de Monsaraz” e que permanece em “El-Rei Pastor”, principalmente nos escritos do “Pastor”.
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